O presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou que a aviação brasileira é, em grande parte, um “produto importado”. Ele destacou que o setor enfrenta desafios significativos, como a dependência de combustíveis cotados em dólar e a necessidade de adquirir peças e aeronaves no mercado internacional. Essa realidade torna as companhias aéreas do Brasil vulneráveis à volatilidade cambial e à escassez de suprimentos globais, complicando a operação das empresas.
Rodgerson defende que a fusão entre a Azul e a Gol poderia melhorar as condições de negociação para a compra de peças e aeronaves, além de reduzir o custo de capital. A desvalorização do real, que se intensificou em mais de 30% no último ano, impactou severamente o setor. Com a moeda americana ultrapassando os R$ 6, as incertezas políticas e o cenário internacional pressionam ainda mais o câmbio, afetando as receitas em reais das companhias, que têm custos predominantemente dolarizados.
Em 2023, a Azul registrou um prejuízo de R$ 2,3 bilhões, um aumento alarmante de 229,5% em relação ao ano anterior. Apesar de uma leve melhora no terceiro trimestre de 2024, onde o prejuízo caiu de R$ 856 milhões para R$ 203 milhões, a alta do dólar continua a ser um grande obstáculo. O combustível de aviação representa cerca de 35% dos custos do setor, tornando a situação ainda mais crítica para as companhias aéreas.
Rodgerson acredita que a fusão com a Gol traria vantagens estratégicas, como a ampliação da malha aérea e a melhor utilização dos ativos existentes. Ele argumenta que a integração das rotas permitiria expandir a cobertura e utilizar as aeronaves de forma mais eficiente. O objetivo não é cortar voos, mas sim aumentar as opções de rotas, o que poderia ajudar as companhias a competir com rivais internacionais e minimizar os altos custos operacionais.
Entretanto, a consolidação do setor aéreo brasileiro levanta preocupações sobre a competitividade. A fusão entre Azul e Gol, que controlaria 60% do mercado, será avaliada com cautela pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O principal risco identificado é o aumento do controle de preços, o que poderia resultar em tarifas mais elevadas para os consumidores, prejudicando a acessibilidade do transporte aéreo.
A experiência passada, como a aquisição da Webjet pela Gol, demonstrou que promessas de eficiência nem sempre se traduzem em benefícios reais para o público. Embora as companhias defendam que a união será positiva para o mercado, os efeitos de longo prazo dessa operação permanecem incertos e arriscados. A preocupação com a manutenção da competitividade é um tema central nas discussões sobre a fusão.
Rodgerson enfatiza que a fusão não é apenas uma questão de sobrevivência, mas uma estratégia para fortalecer o setor aéreo brasileiro. A busca por soluções que garantam a sustentabilidade das companhias é fundamental em um cenário econômico desafiador. A união das empresas poderia proporcionar uma base mais sólida para enfrentar as adversidades do mercado.
Em resumo, a aviação brasileira enfrenta um momento crítico, e a perspectiva de fusão entre a Azul e a Gol pode ser uma solução viável para os desafios atuais. No entanto, a análise cuidadosa das implicações dessa fusão é essencial para garantir que os interesses dos consumidores e a competitividade do setor sejam preservados. A evolução desse cenário será acompanhada de perto por todos os envolvidos.
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